As mentiras vão surgindo à medida que as crianças desenvolvem capacidades cognitivas e sociais, que aprendem o código moral que é desenvolvido com e pela família e aprendem pela observação e imitação.
As crianças mais pequenas podem mentir por terem dificuldade em separar o mundo imaginário da realidade; ou por fazerem uma interpretação errada daquilo que ouviram, ou não compreendem a pergunta que lhe foi colocada.
As mentiras podem estar relacionadas com:
- desejo de conseguir algo que deseja muito;
- medo da reação do adulto;
- na tentativa de evitar experiências desagradáveis;
- a verdade é demasiado dolorosa ou humilhante;
- por medo das consequências negativas ou para evitar castigos;
- evitar desiludir os outros, após ter cometido algum erro.
O que fazer quando as crianças mentem?
É natural que quando descobrimos uma mentira, fiquemos irritados ou desiludidos. Porém, berrar com a criança em nada ajudará a resolver a situação. Só tentando manter a calma é que poderemos transformar a situação num momento de aprendizagem.
Reforce a relação de confiança, assegurando à criança que por muito mau que tenha sido o comportamento, o importante é que ela seja capaz de o partilhar.
Aborde o assunto com calma, sem ameaças de castigos ou de ressentimentos, para não reforçar a tendência para mentir de forma a evitá-los.
Não ande em rodeios para saber se a criança mentiu. Seja honesto com a criança e diga-lhe o que sabe, por exemplo: “Fui informado que… podes contar-me o que aconteceu?”.
Escute o seu filho, sem o interromper, sem assumir o pior, permitindo-lhe explicar a sua versão dos factos e o motivo da mentira.
A maioria dos pais concorda que perante mentiras, as crianças devem ser castigadas, acreditando que isso evitará mentiras futuras. Porém, nestes casos os castigos são contraproducentes, pois provocam medo na criança e inibem-na de dizer a verdade. Por isso a criança recorrerá a mais mentiras para tentar escapar a situações desagradáveis.
Promova a reparação do erro, para que a criança perceba que a mentira tem consequências e que deve assumir as responsabilidades. Ajude-a a refletir sobre como deve reparar o dano causado, bem como pedir desculpa.
Quando a criança é chamada de mentirosa pode sentir que não há lugar para ser boa ou honesta e consequentemente pode inibir-se de tentar fazer diferente. Dizer mentiras é diferente de ser mentiroso. É importante distinguir o comportamento (mentira) da pessoa em si.
Elogie a criança nas situações difíceis em que consegue dizer a verdade.
Lembre-se que a mentira pode estar associada a sofrimento emocional da criança.
Cabe ao adulto dar o exemplo e evitar incoerências. Às vezes até passamos a mensagem de que mentir é aceitável, desde que para nosso proveito, por exemplo: “atende tu o telefone e diz que eu não estou”.
É fulcral que os pais conversem com a criança no sentido de a ajudarem a compreender o impacto da mentira na vida dela e nas outras pessoas.
Raquel Carvalho
Psicóloga clínica
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