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“Nasci no corpo errado…”


O processo de construção da identidade pressupõe interrogações como “Quem sou eu?”, “Que significado tem a minha vida?”, “Como quero viver?” e, na procura de respostas para estas e outras questões, algumas pessoas deparam-se com a constatação de que não são aquilo que os outros lhes atribuem, ou mais especificamente, que não pertencem ao género que a sociedade lhes atribuiu.


A Identidade de Género corresponde à sensação interna persistente de pertença a uma categoria de género (género masculino, género feminino ou género alternativo).


Há cerca de 100 anos, Magnus Hirschfeld, um médico e sexólogo alemão, foi um dos pioneiros a falar sobre a discordância ou não conformidade entre o género biológico e a identidade de género. Considerava que a forma como a pessoa se sente é mais importante do que os seus órgãos sexuais e, como tal, aconselhava os seus pacientes a viverem de acordo com a sua natureza.


Este é o ponto fundamental em qualquer processo psicoterapêutico: ajudar a pessoa a dar voz àquilo que sente e a definir o melhor caminho a seguir, um caminho verdadeiro e que, apesar dos obstáculos, a faça sentir-se inteira.


É importante assinalar que alguns indivíduos transgéneros não se sentiram “deslocados” ou com comportamentos característicos do sexo oposto na infância. Da mesma forma, uma grande parte das crianças que apresentam características do género oposto, não se tornam transexuais na idade adulta.


Geralmente, é no decorrer da adolescência que este sentimento ganha forma, mas com frequência só na idade adulta surge a coragem/capacidade para procurar ajuda. Quase sempre, a terapia é o único momento onde é possível falar com alguém sobre o que se está a sentir… e está a sentir-se tanto! Tanta dor, sofrimento, angústia… e medo, medo de avançar para uma mudança, medo que esse não seja o caminho certo, medo de perder o emprego, medo da reação da família e dos amigos.


Não raras vezes, viver uma mudança de género implica a perda do relacionamento amoroso, sendo ainda mais importante o apoio familiar. Mas como é que a família consegue apoiar, se ela própria está em choque e sofrimento com a revelação?


Também a família pode precisar de apoio terapêutico, para expor as suas dúvidas, angústias e, principalmente, para deixar “partir” o filho/irmão que habita o seu espaço mental e afetivo e permitir a entrada do “novo” filho/irmão. Quando a pessoa transgénero partilha o que sente com a família, há muito que as incertezas ocupavam o seu pensamento, mas para os pais e irmãos, muitas vezes é algo completamente surpreendente e difícil de aceitar.


Para um indivíduo transgénero e respetiva família, iniciar um processo psicoterapêutico pode parecer assustador, uma vez que é o início de algo desconhecido e que se imagina difícil, mas é também um caminho novo, um caminho de busca da felicidade e, ao invés de um caminho solitário, uma oportunidade de partilha e reconstrução, através da aliança terapêutica que se estabelece entre o psicólogo e o cliente.

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