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Como explicar o divórcio às crianças mais novas? (4 - 6 anos)

Atualizado: 6 de jun. de 2023

Explicar a uma criança mais nova, em idade pré-escolar, que os pais vão separar-se não é fácil.

«O que dizer? Como dizer? E o que não dizer? E se a criança fizer perguntas às quais eu não sei responder? Como garantir o bem-estar da criança após a separação?», são algumas das principais dúvidas e questões que preocupam os pais/cuidadores.


Esta é uma fase do desenvolvimento em que as crianças apresentam um pensamento muito concreto, com dificuldade em compreender conceitos mais abstratos. A sua noção de tempo é ainda limitada, não indo muito além do «hoje», «ontem» e «amanhã». Mais perto dos 5 ou 6 anos de idade, as crianças começam também a compreender o que significa «depois de amanhã». Uma noção de tempo semelhante à dos adultos é adquirida, regra geral, cerca dos 7 ou 8 anos de idade.


Com a ajuda do Kit pedagógico (Os pais do Artur separaram-se… e agora?) , vamos ajudar as crianças mais novas a compreenderem o processo de separação/divórcio, o que irá manter-se e o que irá mudar.


Antes de usar este Kit, o que tenho de saber?


Tijolo a tijolo…


Uma casa é feita de tijolos. Vamos imaginar que cada tijolo é uma mensagem e, tijolo a tijolo, vamos construir uma casa segura para a criança!


COMUNICAÇÃO

Os pais devem comunicar entre si e com a criança de uma forma adequada e sem culpabilizações.


Quando deve informar a criança sobre a separação/divórcio?

 Quando os pais estiverem seguros em relação a essa decisão.

 Evite associar a notícia a uma data especial.


Como?

 Se possível, na presença de ambos os pais. Se tal não for possível, os pais devem acordar previamente o que irão dizer, para que transmitam mensagens coerentes entre si.

 Utilize uma linguagem clara e adequada à idade e nível de desenvolvimento da criança.

 Não fale de assuntos relacionados com a conjugalidade.


Deve dizer que…

 Os pais vão deixar de ser namorados/um casal, mas vão continuar sempre a ser os seus pais e a amá-la e a cuidar de si.

 A responsabilidade não é da criança nem de nenhum dos pais.

 “Estou aqui para ti e compreendo que esta fase possa ser difícil”, ajudando a criança a sentir-se mais tranquila e a validar as suas emoções.

 Algumas coisas irão mudar e outras irão manter-se. Explicar cada uma delas de uma forma simples.

 “Podemos falar sobre este assunto sempre que quiseres”. Mostre disponibilidade para abordar o tema.


Deve deixar a criança…

 Fazer perguntas que são, normalmente, muito concretas (p. ex., “onde vou morar?”, “com quem fica o cão?”, “quem me vai levar à escola?”). Caso não tenha uma resposta naquele momento, seja honesto e diga que vão pensar qual a melhor forma de resolver aquela situação. Tente perceber o que a criança gostaria que acontecesse.

 Expressar as suas emoções. Pode mostrar-se triste, zangada ou ansiosa. Também pode sentir medo em ser rejeitada ou abandonada. Ajude a criança a expressar o que sente de forma adequada.

 Sentir uma sensação de controlo. Informe-a antes de alguma mudança e evite muitas mudanças ao mesmo tempo.


Como proteger a criança?

 Fale de forma positiva sobre o outro progenitor e incentive-a a manifestar afetos positivos pelo mesmo.

 Não envolva a criança no processo de comunicação dos pais.

 Esteja atento a eventuais alterações da criança, emocionais, comportamentais ou sociais.


Se as alterações forem muito frequentes, intensas e/ou persistirem ao longo do tempo, peça ajuda especializada.


FAMÍLIA

Os pais passam a viver em casas diferentes e a família muda, mas a criança não passa a ter 2 famílias. Para a criança, a sua família é 1 e apenas 1!


E os avós, tios, primos?

 Todos continuam a fazer parte da família da criança e devem conviver de forma regular. Devem também estar juntos nos dias de aniversário ou outras ocasiões festivas.


Os pais vão namorar outra vez um com o outro?

 Esta pergunta é muito frequente e traduz o desejo de reconciliação dos pais.

 Os pais devem ser honestos e salientar que, apesar de não serem namorados, continuam e vão continuar a ser sempre os seus pais!


Os pais não se divorciam dos filhos!


E os/as novos/as namorados/as dos pais?

 Os pais devem integrar novos elementos na vida da criança apenas quando tiverem alguma segurança em relação a esse relacionamento e sempre de uma forma gradual. Algumas crianças sentem ciúmes… é uma emoção expectável que deve ser validada. Converse com a criança e explique-lhe que nada irá mudar na vossa relação e no tempo especial que têm em conjunto!

 Diga de forma clara que o/a novo/a namorado/a não irá nunca substituir o pai ou a mãe.


P.S. Não se esqueça de informar previamente o outro progenitor de que irá integrar esta nova pessoa na vida da criança.


2 CASAS

A criança passa a ter 2 casas. Devemos ajudar a criança a dizer “a minha casa com a mãe” e “a minha casa com o pai”.


Para que a criança sinta que tem 2 lares…


 Deve haver um espaço em cada casa para a criança e para as suas roupas, brinquedos e objetos pessoais.

 Para as crianças mais novas, os objetos de conforto são muito importantes! O brinquedo preferido, a fotografia de alguém especial ou o peluche para dormir devem acompanhar a criança, o que facilita a sensação de continuidade entre ambas as casas.

 As roupas e os brinquedos não são da casa, são da criança! “O jogo da casa da mãe” ou “a boneca da casa do pai” devem ser substituídos por “os brinquedos da criança”.

 É importante que as regras sejam semelhantes em ambas as casas. Para tal, os pais devem fazer um esforço (ainda que gigante) para comunicarem adequadamente.


Lembrem-se! Sem este esforço, quem fica a perder é… a criança.


Um calendário pode ajudar?

 Sim, porque as crianças mais novas não têm ainda uma noção de tempo semelhante à dos adultos.

 Use o calendário “EU E AS MINHAS 2 CASAS”.


Como ajudar a criança nas transições entre as suas 2 casas?

 Fale de forma positiva sobre o tempo que a criança irá passar na outra casa.

 Transmita confiança e diga que está sempre disponível, caso a criança precise de si.


CONTATOS

A criança tem o direito a crescer e a conviver regularmente com ambos os pais.


O convívio regular com os pais facilita…

 A criação de laços afetivos mais fortes e seguros!

 Pais presentes no dia-a-dia da criança (p. ex., dão a papa, o banho, adormecem e consolam dos pesadelos, brincam e ensinam coisas novas) sentem-se mais envolvidos e com menos stresse.


Lembre-se! Um maior envolvimento parental tem um impacto positivo no bem-estar da criança, a curto, médio e longo prazo.


Sabia que… o afastamento da criança de uma das suas figuras de vinculação pode ter um efeito traumático na criança?


Como deve ser a divisão do tempo?

 Deve ser pensada em função da idade e nível de desenvolvimento da criança e também das profissões dos pais e da distância entre as 2 casas.

 Não deve ser medida com um cronómetro!

 A criança deve estar com cada um dos pais a cada 3 ou 4 dias.

 Devem evitar-se períodos mais longos de separação de um dos pais (p. ex., uma semana ou quinzena).

 Os períodos de tempo nas férias não devem exceder os 7 dias.

 No dia do seu aniversário, a criança deve estar com ambos os pais e as respetivas famílias de origem. Caso isso não seja possível, tentem que passe parte do dia com cada um dos pais.

 Em datas festivas (como o dia de aniversário dos pais, o Dia do Pai ou o Dia da Mãe), a criança deve estar com respetivo progenitor.


Atenção! Não se esqueçam das datas festivas de outros familiares importantes, como os avós, os tios ou os primos!


E quando se está longe?

 Valide as saudades que a criança tem do outro progenitor. Diga, por exemplo, “é normal que sintas a falta da mãe/do pai, queres ligar-lhe para lhe dar um beijinho?”

 Facilite e incentive os contactos entre a criança e outro progenitor - por telefone ou, melhor ainda, com videochamada. As crianças mais novas devem ser estimuladas de várias formas. Ouvir a voz e ver a face permite uma riqueza de comunicação muito maior!

 Para que os contatos não coincidam com um momento em que a criança está mais distraída e menos disponível para interagir, deve ser o progenitor que está com ela a iniciar esse contato. Faz sentido, não faz?


JARDIM DE INFÂNCIA E ATIVIDADES EXTRACURRICULARES

Os pais têm direito à informação e a estar envolvidos na vida escolar dos filhos.


Os pais devem informar o Jardim de Infância da separação/divórcio?

 Sim. É muito importante que o/a Educador/a de Infância saiba desde logo que a criança está a vivenciar um processo de mudança muito importante na sua vida.

 O/a Educador/a de Infância deverá estar atento/a a eventuais dificuldades de adaptação da criança, nomeadamente, alterações emocionais ou de comportamento, tentar ajudá-la e partilhar as suas preocupações com os pais.


Como deve o Jardim de Infância articular com os pais?

 O Jardim de Infância deve permitir que os pais estejam sempre presentes na vida escolar da criança.

 Ir às reuniões de pais e colaborar nos dias festivos ajuda os pais a sentirem-se mais envolvidos e isso beneficia toda a família.


E quando a criança muda de Jardim de Infância?

 Ajude a criança a encontrar vantagens na mudança (p. ex., conhecer novos amigos) e a manter o contato com antigos colegas e amigos (mesmo que seja à distância).


Quem deve levar a criança às atividades extracurriculares?

 A maior parte das crianças frequenta atividades extracurriculares. É muito importante que ambos os pais estejam presentes, acompanhem o percurso da criança e se sintam envolvidos no seu quotidiano.

 A presença de ambos os pais é especialmente importante em momentos especiais, como torneios, espetáculos ou campeonatos.

 Se os pais sentirem que lhes é muito difícil estarem presentes nestas atividades ao mesmo tempo, tentem acompanhar a criança alternadamente.


Alguns erros que os pais cometem que prejudicam (muito) as crianças:

Falar com a criança como se fosse sua confidente.

Usar a criança como “pombo-correio”.

Dizer mal/criticar o outro progenitor e respetiva família na presença da criança.

Perguntar à criança “gostas mais da mãe ou do pai?”

Sujeitar a criança a um interrogatório sobre o que fez ou o que aconteceu enquanto esteve com o outro progenitor.

Tentar “comprar” a criança com presentes.

Permitir que a criança sinta que, ao gostar do progenitor A, está a trair o progenitor B.

Deixar a criança fazer tudo para a compensar pelo divórcio.

Impedir a criança de falar e conviver com o outro progenitor e respetiva família.

Introduzir namorados ou namoradas de forma precipitada ou recorrente.


Lembra-se de mais algum erro?


Agora que leu estas ideias chave e sabe o Bê_á_Bá do DIVÓRCIO, pode começar a explorar as histórias, a casa de pano e o calendário!








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