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A liberdade como um vértice da saúde mental

Atualizado: 22 de abr. de 2020


“Isto é o que tenho que fazer” – dito com muita resignação - “Quando isto acontecer tenho que reagir assim e não sei como vou aguentar”. Estas frases, e outras variantes, cheias de muitos “tenho que…” implícitos, é algo muito comum de se ouvir, não só em contexto terapêutico, mas também no nosso dia-a-dia, nas nossas interações mundanas.


Não sejamos hipócritas, há um beneficio nestas verbalizações, por vezes usadas como um motivador final para uma acção difícil, como um modo de minimizar, pela repressão, o sofrimento ou desconforto de uma decisão.


Obviamente temos os nossos valores, aprendizagens, que mais não são que guias de vida, porque no final todos temos liberdade. Restringimos em demasia a nossa liberdade. Talvez porque não compreendemos os limites reais da nossa liberdade enquanto individuo. Talvez porque nos foram impostas algumas prisões imaginárias.


Mas como se diz, entre o remédio e o veneno a diferença é a quantidade.


Torna-se assim demasiado fácil a fuga pelo “tenho que…”; depois do hábito enraizado, depois de se descobrir o conforto a curto-prazo da anestesia emocional e da falta de ponderação sobre as consequências e responsabilidades, o “tenho que…” fica um modo de viver.

Estas frases aparecem depois em pessoas com muita angústia, culpa, ansiedade, presas a todos os “tenho que…” que acreditam que existem. Acreditam porque lhes foi dito que não têm liberdade de escolha. Acreditam porque lhes foi ensinado que há sofrimento no dia em que se aperceberem que não têm que nada e que podem tudo.


De certo modo há sofrimento no poder.


Há sofrimento porque se tem que ponderar as consequências, o resultado que as nossas escolhas têm em nós, nos outros, no que vamos sentir e enfrentar para seguir em diante com a liberdade das nossas escolhas. Mas será que não vale a pena? Não será muito mais benéfico a noção de que tudo na nossa vida é feito e enfrentado por nós próprios?


É extremamente libertador quando em terapia alguém se apercebe das escolhas que tem. Mesmo a escolha de não ter que escolher nada ou de se fazer o mesmo que se tinha inicialmente pensado. Mas o facto de ser uma escolha, de que há outras opções (com outras consequências), é extremamente benéfico e dos melhores apaziguadores de culpas invasivas e ansiedades debilitantes.


Mais do que pensar “o que tenho que fazer?” é muito mais útil pensar “o que posso fazer?”, “o que quero fazer?”, “o que vai acontecer?” e “aceito o depois?”.


Não é só uma questão de liberdade, mas de controlo na própria vida, dentro daquilo que faz sentido controlar: quem somos.

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