Os números da violência no namoro têm vindo a aumentar nos últimos anos, o que nos deve preocupar a todos enquanto sociedade. Muito se tem falado da violência doméstica e da violência contra as mulheres, mas é igualmente importante, ou até mais, que se sensibilize para a violência entre jovens numa fase de namoro.
Numa fase em que a autoestima e personalidade dos jovens se encontra em construção e formação, a vivência de relacionamentos interpessoais saudáveis é um fator de extrema importância. A gravidade da ocorrência de violência entre pares e, especialmente, na relação de namoro, estende-se até à idade adulta com danos significativos ao nível emocional e dificuldades no estabelecimento de relações afetivas, bem como no reconhecimento dos limites dentro dessas mesmas relações.
Até há muito pouco tempo, a violência na intimidade era considerada um assunto privado, tanto pela sociedade, como pela justiça ou pelos governos. A tomada de consciência, da necessidade de proteger as vítimas da violência que ocorre no seio da relação e de tomar medidas para punir os agressores é recente, nomeadamente por parte das autoridades.
É por isso importante que, se comece por compreender o que é a violência no namoro e como se manifesta. Esta acontece quando, no contexto das relações de namoro, um dos parceiros, ou até mesmo os dois, recorre à violência com o objetivo de marcar a sua posição como um lugar de dominância, poder e controlo. A violência pode tomar várias formas: tanto pode ser física, psicológica, emocional, verbal, económica e/ou sexual. O objetivo da pessoa que agride é sempre o de controlar, isolar, tornar o outro frágil e inseguro.
Contudo, sabemos que nem sempre é fácil para um jovem, ainda em formação, gerir todo o leque de emoções que vivência numa relação de violência. De um lado estão os sentimentos que tem pelo outro e aqueles que julga que o outro tem por si, por outro estão as emoções de raiva, tristeza e frustração sentidas pelo facto de estar a ser tratado daquela forma por alguém que acredita gostar de si. O medo da rejeição é enorme e esta é uma fase em que uma rejeição tem um impacto avassalador para os jovens. É por isso comum que, o jovem fique refém desse medo e desse suposto sentimento. Comportamentos de controlo e ciúme passam a ser considerados normais e demonstrativos de afeto, o que apenas vai alimentando a escalada de violência.
Os pais, muitas vezes colocados em segundo plano pelos jovens nesta fase, têm um papel fundamental na deteção da situação e no apoio ao jovem. Mesmo que a adolescência seja uma fase difícil na relação entre pais e filhos, estes continuam a ser o porto seguro dos filhos, aqueles com quem eles sabem que podem contar e que tudo farão para os proteger. É importante estar disponível para conversar abertamente sobre as relações dos filhos. Recordemo-nos que, quanto mais distantes os pais estiverem ou mais negligenciarem as relações dos filhos, mais os estarão a colocar em risco. O desconhecimento dos relacionamentos dos filhos é um grande fator de desproteção.
Mas, a que devem os pais estar atentos nas relações amorosas dos seus filhos? Quais os comportamentos de riso e sinais de alerta?
A violência nas relações amorosas na adolescência surge quando:
Os/as rapazes/raparigas pensam que:
- têm o direito de decidir determinadas coisas pela/o namorada/o:
- o respeito se impõe;
- ser masculino é ser agressivo e usar a força
As/os raparigas/rapazes acreditam que:
- as crises de ciúme e o sentimento de posse do namorado/a significam amor;
- são responsáveis pelos problemas da relação;
- não podem recusar ter relações sexuais quando ele/ela deseja
O seu filho/a estará a viver uma relação violenta quando o/a namorado/a:
- belisca, empurra, arranha, dá ordens ou toma todas as decisões;
- não valoriza as suas opiniões, é ciumento/a e possessivo/a;
- não quer que saia com os amigos e controla todos os seus movimentos;
- o/a humilha à frente dos amigos e culpa-o/a pelos comportamentos violentos dele/a,
- tem medo da reação dele/a.
Sinais de alerta
Perda de apetite e emagrecimento excessivo
Dores de cabeça
Nódoas negras
Queimaduras (ácido, pontas de cigarro)
Nervosismo
Tristeza
Ansiedade
Sentimentos de culpa
Baixa autoestima
Confusão
Depressão
Isolamento
Gravidez indesejada
Doenças sexualmente transmissíveis
Baixa dos rendimentos escolares ou abandono escolar
Ideação suicídio
Deverão ainda os pais estar atentos a fatores de risco como, famílias com história de agressividade, isolamento do agressor, assimetria nas tomadas de decisão, consumos de drogas, pouca supervisão familiar.
Como poderão os pais ajudar os filhos?
Os pais são o grande pilar dos filhos e devem securizá-los, garantido que os amarão incondicionalmente e que são as pessoas em quem mais poderão confiar. Faça a ponte com a escola e amigos, garantindo que, também os professores e amigos estarão atentos. Não critique o seu filho, não seja autoritário, pois só promoverá o distanciamento e a dependência face ao agressor. É importante que os pais transmitam aos seus filhos que têm o direito a:
1. Não ter namorado/a 2. Expressar as suas ideias 3. Expressar os seus sentimentos, mesmo sendo negativos 4. Escolher o seu trabalho, amigos ou religião 5. Viver sem medo 6. Ter tempo para si 7. Gastar o seu dinheiro como entender 8. Ser apoiada/o pela sua família e amigas/os 9. Ser ouvida/o pelas suas amigas e amigos, bem como familiares 10. Escolher as suas/seus amigas e amigos 11. Expressar as suas convicções, competências e talentos 12. Decidir se quer participar em atos sexuais
É urgente atuar na violência nas relações de intimidade desde cedo e só a sensibilização e educação para as relações ajudará os jovens a prevenir situações de agressividade ou a libertarem-se delas.
É urgente mostrar aos adolescentes que gostar de alguém não é fazer sofrer.
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