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Quais os novos desafios à conjugalidade?



Os desafios com que os casais se deparam na atualidade são diferentes daqueles que vivenciavam em épocas anteriores. Contudo, as relações nessa altura nem sempre se mantinham por amor, mas sim por obrigação e impossibilidade de sair delas. Atualmente, as pessoas não precisam permanecer em relações infelizes e tomaram consciência que podem ser felizes escolhendo outro caminho. Isto faz com que ocorram mais separações, mas, neste caso, ainda bem que elas ocorrem, já que todos temos o direito a ser felizes. No meio disto e da dificuldade em entender o que é a felicidade e como ser feliz numa relação, já que a felicidade não é estar sempre tudo bem, podemos cair no registo fácil de terminar relações, por acharmos que não somos felizes.


Importa ainda frisar as exigências vividas na atualidade pelos casais. Os papéis que homens e mulheres foram assumindo, a dificuldade em conciliar a vida pessoal com a profissional e a falta de tempo para o casal, pode gerar distanciamento e conflitos, o que aumentará a probabilidade de rutura. É exido neste momento que as pessoas consigam ser boas profissionais, bons pais, bons cônjuges, bons amigos, entre outros. É difícil corresponder a tanta espetativa. Tudo isto torna mais difícil a manutenção de relações saudáveis.


Um dos grandes desafios atualmente é compreender o outro como um ser imperfeito, que erra e falha. Somos mais intolerantes agora. Outro grande desafio é o compromisso. Parece existir alguma relutância ao comprometimento. As pessoas até vão viver juntas, mas com baixo nível de comprometimento, partindo do princípio que pode não resultar e que, nesse caso é fácil sair. Conciliar a necessidade de compromisso para que as relações resultem com a não obrigatoriedade de permanecer em relações infelizes, está a tornar-se um desafio sério. Os filhos trazem também grandes desafios. O exercício da parentalidade alterou-se significativamente ao longo dos últimos anos. Pais e mães são chamados a desempenhar os mesmos papéis, o que é uma realidade relativamente recente na nossa sociedade. Quando as responsabilidades são partilhadas, o conflito aumenta, já que ambos têm que estar de acordo. Por outro lado, a discussão em torno da decisão de ter ou não filhos, também tem aumentado. Ter filhos começa a deixar de ser visto como uma obrigatoriedade, mas, muitas vezes, o casal não está em sintonia neste campo.


A sexualidade é outro grande desafio atualmente. As mulheres reclamam o direito ao prazer, o que eleva nos homens o medo de não corresponder a essa “exigência”. As mulheres sentem que devem também corresponder também a uma exigência, embora nem sempre o consigam, sentindo-se culpadas. Ao exigirmos relações felizes, exigimos uma sexualidade também feliz, embora neste campo seja, ainda, necessário algum trabalho de compreensão da dinâmica de funcionamento dos casais e da sexualidade.


E as novas tecnologias têm algum impacto?

A tecnologia desempenha atualmente um papel significativo na vivência das relações. Por muitas críticas que lhe sejam feitas, a verdade é que a tecnologia veio para ficar e, não podemos por isso, fugir dela. Temos antes que nos ajustar à convivência com ela e manter o bom senso. A forma como conhecemos pessoas alterou-se e, é através das aplicações e redes sociais que muitas relações dão os primeiros passos. Isto não é em si mesmo bom ou mau, é apenas fruto das circunstâncias atuais. O que é preciso é saber que, a curto prazo a transição para o real tem que ser feita.

Os casais comunicam muito através das redes sociais, estabelecem diálogos que presencialmente não conseguem fazer. Preferíamos que estes diálogos fossem pessoalmente e, por vezes a tecnologia evita a exposição. Mas as relações implicam exposição. É inevitável. Contudo, muitas vezes a tecnologia tem um efeito desbloqueador e até tem o potencial de “apimentar” a relação. Uma das tendências atuais é o sexting, embora isto possa acarretar riscos enormes.

Outra interferência é a facilidade com que estamos deitados na cama com o companheiro, mas a conversar com outra pessoa através das redes socias e apps. A maior parte das infidelidades são atualmente descobertas através do telemóvel, redes sociais e apps.


Como devemos então lidar com os novos desafios?

O diálogo, compreensão e empatia continuam a estar no topo das estratégias para lidar com isto. É preciso parar mais vezes para nos colocarmos no lugar do outro. E colocar no lugar do outro não é olhar com os nossos olhos, é colocarmo-nos no lugar do outro e vermos com os olhos dele, ou pelo menos, tentarmos. Todos temos contextos diferentes, os quais nos influenciam de maneiras distintas.

É preciso também aumentar o conhecimento sobre o casal e os seus desafios. É preciso refletir, de modo a encontrar soluções, compreendendo que não há relações perfeitas, que com o tempo é preciso redescobrir e reposicionar o amor, pois o amor não é imutável ao longo dos anos. Ele transforma-se e, o casal tem que aprender a amar de diferentes formas ao longo do tempo. A forma como nos relacionamos com o outro nos primeiros anos tem que ser diferente da forma como nos relacionamos passados 10 anos. É necessário entender isso para que se criem ajustamentos. Quando isto não é possível, recorrer a uma consulta de terapia de casal poderá trazer grandes benefícios.


Nota:

É importante que os casais mantenham a capacidade de sonhar, imaginar e projetar a sua relação no futuro. Esta competência tem-se perdido, mas é ela que constrói a relação. Atualmente não temos sequer tempo de desejar ou imaginar, pois tudo é rápido. Hoje queremos e amanhã acontece. Desejar que um dia algo aconteça já pouco existe, pois, a concretização tende a ser muito rápida. E, o que é construído sem esforço, mais facilmente é derrubado.



Catarina Lucas - Psicóloga

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