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O regresso à creche: entusiasmo ou medo?



O mês de maio teve início com a mudança do estado de emergência para o estado de calamidade e é suposto que gradualmente sejam retomadas as rotinas anteriores, tendo por base um conjunto de cuidados que promovam a saúde de todos. Uma das medidas implementadas para este mês de maio é a reabertura das creches, ou seja, o regresso à escola das crianças até aos 3 anos de idade.


Além do trabalho no Centro Catarina Lucas, sou também psicóloga num Jardim de Infância e habituei-me a ver meninos e meninas, a crescer envoltos nos abraços das educadoras e ajudantes de ação educativa, a ser cuidados entre beijos e conversas, a poucos centímetros de distância, porque para que uma criança se torne um adulto equilibrado e confiante, precisa de sentir que é amado e importante na vida dos que o rodeiam.


Nos últimos anos, as neurociências conseguiram provar finalmente a importância do afeto no desenvolvimento da arquitetura cerebral, ou seja, o desempenho intelectual de cada ser humano não depende apenas dos genes com que nasceu. A forma como tocamos, pegamos, alimentamos, falamos e olhamos para o bebé dá um importante contributo ao seu cérebro em desenvolvimento.


Mas agora temos um vírus que nos assusta! E embora as crianças pequenas estejam naturalmente mais protegidas, também elas podem adoecer com o COVID-19 e/ou contagiar quem as rodeia.


É compreensível que os pais e até os profissionais de educação se sintam receosos com esta nova fase que se avizinha, mas o medo não deve paralisar-nos e retirar-nos aquilo que é a essência do ser humano, ou seja, a liberdade de sermos autênticos e afetuosos uns com os outros. Nenhuma sociedade se constrói com cuidados desumanizados e isolamento afetivo.


Podemos explicar a crianças mais velhas que não se podem tocar e as razões por que não o devem fazer, mas não podemos fazê-lo a bebés ou crianças de 2 anos. Elas serão aquilo que sentem e têm que continuar a sentir o amor daqueles que cuidam delas. Porque daqui a uns anos, não teremos este vírus (assim espero), e precisamos de garantir que estes meninos e meninas desenvolveram as suas potencialidades em termos cerebrais e serão adolescentes e adultos que confiam nos outros, que acreditam em si próprios e que são capazes de criar vínculos profundos, na vida pessoal e profissional.


O vírus existe e teremos que aprender a conviver com ele, habituando as crianças a contactar com adultos de máscaras e luvas, reforçando nos profissionais a necessidade de maior atenção nas interações entre as crianças, com maiores cuidados de higiene e limpeza, mas sempre sem perder de vista o objetivo máximo da educação pré-escolar: ajudar a crescer com amor, porque o amor é a base da inteligência e do equilíbrio emocional.


Em jeito de conclusão, termino com as palavras de Bruce Perry (2013), um psiquiatra americano e investigador da Academia de Trauma da Criança em Houston.

“Os humanos tornam-se humanos:

a capacidade para

cuidar,

escutar,

valorizar,

ser empático/compassivo,

desenvolve-se por sermos

cuidados,

escutados,

valorizados,

amados…

o cuidar humano expressa a nossa capacidade de sermos humanos.”

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