O mundo quase parou com a pandemia de COVID-19! De um dia para o outro, fomos obrigados a ficar fechados em casa para nos protegermos de um vírus que, embora não seja letal para a grande maioria das pessoas que afeta, devido à sua rápida propagação, pode facilmente originar o colapso do sistema de saúde (como infelizmente observámos em muitos países).
Deixou de ser possível fazer coisas tão simples como tomar um café na rua ou conviver “cara a cara”. Curiosamente, ou não, para a maioria das pessoas que acompanho em consulta, não foi necessariamente um tempo mau, mas antes um desafio. Um desafio na reorganização de horários, na distribuição de tarefas e na reformulação de prioridades.
Um dos aspetos mais positivos do período de quarentena foi, para muitos, o encontro com aqueles com quem se vive! Sim, porque a quarentena permitiu a muitos casais voltarem a namorar, permitiu a muitos pais brincar sem pressa com os seus filhos, ver filmes, fazer jogos, passeios a pé e de bicicleta, conversar e descobrir que todos, conjuges e filhos, são ainda mais interessantes e divertidos do que se lembravam (algumas birras e teimosias à mistura, mas que não são o tema deste texto!).
A quarentena permitiu também a muitos incluir o exercício físico nas rotinas semanais, um plano adiado e finalmente concretizado! Trouxe tempo para leituras e cursos online, permitiu aprender novas receitas de culinária, redecorar a casa… Permitiu acima de tudo abrandar, viver o dia-a-dia com mais calma, e isso é tão importante!
E agora, com o desconfinamento, algo extraordinário acontece quando voltamos às pequenas rotinas do dia-a-dia, porque tudo parece ter mais valor do que antes. A liberdade que sentimos quando conduzimos para o emprego, voltar a ver pessoas “ao vivo”, tomar um café na rua, estar novamente com familiares e amigos.
Claro que há novas regras de convivência e é muito importante que sejamos capazes de as cumprir. O vírus não desapareceu! Aliás, ele continua bem perto de nós, como mostram os números de contágio. E, como psicóloga, não posso deixar de reforçar que, para bem da nossa saúde psicológica, temos que ser conscientes e disciplinados, para não termos que voltar ao confinamento, que nos priva de tantas coisas, aparentemente simples e banais, mas que fazem tanta diferença no nosso bem-estar.
Espero também que as “novas vidas” que surgiram com a quarentena, não se percam no regresso à rotina e que se tenha tornado claro que viver não é sobreviver “entalado” em horários (de trabalho, de atividades).
A maior parte das pessoas que acompanho em consulta, chega com sintomas depressivos e ansiedade, diretamente relacionados com a correria das suas vidas, com a competição e horários exagerados de trabalho, com as exigências de dar mais e mais, com o peso de cumprir com as responsabilidades profissionais, mas ter um casamento perfeito e ser um superpai ou uma supermãe.
Para viver, e não apenas sobreviver, é preciso fazer aquilo de que se gosta e saborear sem pressa aqueles que nos rodeiam. Este desejo pode parecer utópico, mas depende de cada um definir as suas prioridades e ser honesto no caminho que pratica para a sua felicidade.
Votos de um regresso feliz à “normalidade”!
Comentários