No dia 20 de março, assinala-se o Dia Internacional da Felicidade. Comemorado pela primeira vez em 2013, foi criado pela ONU para marcar a importância da felicidade como um objetivo essencial da humanidade. Mas, afinal, o que é a felicidade? É diferente para cada um? Muda ao longo da vida? Perguntámos tudo isto e muito mais à psicóloga Catarina Lucas. Leia e confirme se é feliz.
O que é a felicidade?
É difícil definir e mais fácil de sentir. Há autores que referem que é um momento de êxtase, embora eu a encare de forma distinta. Gosto de a encarar não como um momento transitório, mas como um continuum. Prefiro romper com a visão mais tradicional da mesma e olhá-la como um estado de espírito, uma forma de estar na vida.
O conceito pode variar ao longo da vida de cada um?
Sem dúvida, aquilo que nos faz felizes aos 20 não é o mesmo que nos faz feliz aos 30, 40 ou 50. Além das necessidades se irem alterando, as experiências e até a própria maturidade faz com que vamos encarando a felicidade de forma distinta.
Porque não se tem bem presente quando se é feliz?
Pelo facto de que o ser humano ser um eterno insatisfeito. Então estamos sempre à espera de mais, queremos sempre mais, nunca é suficiente. Não é que isso seja mau, pois devemos sempre lutar por aquilo que desejamos. A questão é que, com esta permanente procura da felicidade, acabamos por não nos apercebermos que talvez já sejamos felizes.
Como se pode definir que uma pessoa está feliz?
A felicidade é variável, mas, acima de tudo, quando nos sentimos bem connosco próprios, sem fazer esse bem-estar depender de terceiros, quando temos objetivos, quando olhamos o futuro com esperança, quando queremos mais, mas não deixamos de estar bem por não termos ainda chegado lá, quando gostamos de nós, quando somos resilientes…então talvez neste momento estejamos próximos da felicidade. Aliás, creio que fará mais sentido dizer-se “é feliz” ao invés de “está feliz”.
A felicidade é duradoura ou apenas momentos do dia?
Este é o típico cliché que tantas vezes oiço em consulta. “A felicidade não existe, existem momentos de felicidade”. O meu lema e aquilo que trabalho com muitos dos meus pacientes é exatamente o contrário. “Sou feliz, com momentos de infelicidade”. É apenas uma questão de perspetiva. Todos temos problemas, mas esses são os momentos de infelicidade. O problema é que as pessoas associam muito a felicidade a momentos de euforia, mas julgo que a felicidade é mais que isso. Claro que há casos dramáticos onde esta perspetiva não se consegue ver, mas esses são a minoria e não a generalidade.
Quais os maiores fatores causadores de felicidade?
Por norma, as pessoas associam a felicidade a fatores externos e materiais. Ter uma casa, um carro, um emprego melhor…mas, embora estas coisas sejam muito importantes e façam todo o sentido, a felicidade deve partir de nós…devemos ser felizes por nós mesmos…aliás, é isto que depois nos faz correr atrás de objetivos como uma casa ou um emprego melhor. Outros fatores muito ligados à felicidade são os emocionais, ter um companheiro(a) ou ter um filho.
É possível criar a sua própria felicidade ou está dependente de fatores externos?
É possível criar a felicidade se mudarmos a forma como vemos as coisas. Por norma, valorizamos muito as coisas más e damos as boas como adquiridas. Se tivermos um problema no carro ao vir do trabalho, é algo que valorizamos, mas, esquecemo-nos que nos restantes dias nada de mal acontece e que isso também deveria ser valorizado. Não o fazemos porque o damos como adquirido, achamos que é suposto ser assim. Por outro lado, os fatores externos devem ser olhados como objetivos a alcançar (que podem contribuir para a felicidade) mas não a felicidade em si mesma.
A felicidade é a busca eterna do homem?
Diria que sim. Passamos a vida à procura da felicidade e às vezes chegamos ao fim e, ao olhar para trás, parece que nunca a alcançámos. Mas, na verdade, será que não eramos já felizes? Talvez o típico cliché faça sentido. “Era feliz e não sabia”. A verdade é que este permanente estado de insatisfação nos faz continuar à procura daquilo que muitas vezes já temos.
Existe propensão genética para se ser mais ou menos feliz?
Algumas investigações apontam que sim, que há uma componente fisiológica envolvida na felicidade. Aliás, a verdade é que quando sorrimos é libertada na corrente sanguínea uma substância que aumenta a perceção de bem-estar. Contudo, mesmo que isso não seja suficiente para se falar em propensão genética, sem dúvida que a família e os pais influenciam em muito a nossa perceção de felicidade. A educação que vamos recebendo, os valores que nos vão transmitindo, aquilo que vamos observando ao longo do crescimento, não faz de nós mais felizes, mas muda a forma como percecionamos a felicidade.
Que padrões de comportamento essencialmente têm as pessoas felizes?
As “pessoas felizes” olham para os erros e a adversidade como uma possibilidade de aprendizagem, desenvolvem a resiliência para melhor superar obstáculos, valorizam as coisas boas e aproveitam as coisas mais simples. Cultivam a inteligência emocional, ajudam outras pessoas, são prestáveis e passam tempo com aqueles que gostam ou a fazer atividades prazerosas.
Mas, tal como a perceção de felicidade varia de pessoa para pessoa, também a forma de a manifestar se altera e pode ser diferente em diferentes pessoas.
13 dicas para olhar a felicidade de outra forma:
1º Faça uma auto análise. Será que não é já feliz e o resto são apenas os seus objetivos de vida?
2º Não faça a sua felicidade depender de outras pessoas. Seja feliz por si e para si.
3º Encontre-se consigo mesmo, só assim conseguirá ser feliz e ajudar à felicidade de alguém.
4º Tenha objetivos e lute para os alcançar mas não os confunda com felicidade.
5º Valorize mais as suas conquistas, os seus valores e as suas qualidades.
6º Dê mais importância ao que tem de bom e não valorize tanto as coisas negativas.
7º Esteja com quem gosta. Haverá hobbie melhor do que estar com quem amamos?
8º Desenvolva a inteligência emocional. Esta ajuda-nos a estar melhor connosco e com os outros.
9º Seja empático (coloque-se no lugar do outro e adeque o comportamento à forma como gostaria de ser tratado). Trabalhar a relação com os outros pode ser muito gratificante.
10º Desenvolva a resiliência, esta permitir-lhe-á lidar melhor com a adversidade.
11º Pense mais no momento atual e não sofra por antecipação
12 º Não adote uma postura de vitimização. Aproveite os obstáculos para se tornar mais forte.
13º Mude a perspetiva: em vez de dizer, “não existe felicidade, apenas existem momentos de felicidade” diga “sou feliz com momentos de infelicidade”.
Entrevista publicada em MOOD MAGAZINE
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