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Aprender a viver com dúvidas: uma base para o bem-estar

Atualizado: 8 de nov. de 2019

"De todas as coisas seguras, a mais segura é a dúvida. "


(Bertolt Brecht)


O ser humano tem tendência a sentir-se 'mais seguro' quando existem rotinas e categorização. Na verdade, para alcançar o bem-estar necessitamos de algumas rotinas e ordem na nossa vida.


Contudo, muitas são as pessoas que nos chegam com a sua ansiedade no limite, por necessitarem de certezas absolutas de que 'tudo vai correr bem', certezas de que 'não podem falhar', que o esforço que estão a colocar em algo vai dar frutos, que se entrarem num relacionamento amoroso ou casarem 'é para sempre', certezas....certezas...certezas.


Esta dificuldade de coexistir com a dúvida, prende-se com a necessidade de precaver o que pode acontecer de pior, passando por uma atitude de preocupação e consequente ansiedade, que permite estar alerta para reduzir acontecimentos desagradáveis e a tal incerteza, que acaba por gerar angústia. Ou seja, esta atitude leva à crença errónea de que 'só se eu me preocupar é que tenho a vida sob controlo'. Assim, gera-se um ciclo de insatisfação em que se tenta reduzir a angústia causada pela incerteza através da preocupação que acaba por gerar ansiedade desadaptativa e mal-estar.


Como costumo dizer em consulta, posso dar uma 'boa notícia' e uma 'má notícia' relativamente a esta necessidade de controlo. A má notícia é que a vida é preenchida de incertezas, é impossível controlar tudo o que está à volta e não depende de mim próprio. A boa notícia é que é possível trabalhar para alterar percepção de controlo e aprender a tolerar a incerteza.


Então, como parar de alimentar este ciclo de insatisfação e aprender a viver com dúvidas? A base que precisa de aprender é a estar 'no aqui e no agora', consciente do momento presente com atenção plena (Mindfulness). Pois, ao tentar precaver-nos de acontecimentos vindouros, estamos focados no futuro e não no presente.





Existem alguns passos que pode experimentar fazer para estar mais no presente:


1. Perceber o que se passa no meu corpo, o que estou a sentir e dar nome a essa emoção.


2. Caso sinta sintomas de ansiedade (exemplo: coração acelerado, respiração ofegante, sudorese, etc) tente respirar profundamente e o mais lentamente que conseguir e não se 'assustar' com a sensação de ansiedade.


3. Não tente afastar o pensamento de preocupação. Tente antes conviver com ele sem julgamento e dar demasiada importância.


4. Após as etapas anteriores, pode tentar questionar que prós e contras podem existir em ter certeza de tudo na vida; qual é a probabilidade de que todos os cenários ou o cenário que imaginou aconteçam. É importante compreender que quando pensa no pior cenário e se entra no ciclo dos 'E se...' , está a potenciar o sentimento de ansiedade e quanto mais o alimentar mais difícil é conseguir fazer um raciocínio critico e lógico deste prós e contras. Quanto mais cedo detetar que está a entrar no 'futuro', mais fácil é conseguir questionar ou pensar criticamente que probabilidades apoiam ou não esse cenário.


Não saber dar imediatamente respostas às dúvidas não tem de ser um problema. Pode ser sinal de crescimento e desenvolvimento. Por vezes, precisamos de permanecer na incerteza, no 'não saber', para nos ligarmos mais a nós mesmos. Quando saímos da nossa zona de conforto é quando mais incertezas nos assolam, mas sem elas não é possível avançar.


Uma vez que falamos de aprendizagem, de aprender a viver e conviver com o não ter certeza de tudo, é preciso compreender que isto passa por um treino e que não se conseguem resultados de um dia para o outro, experimentando fazer isto uma vez. É necessário treinar estes passos cada vez que dá por si a tentar controlar algo e é importante ser tolerante consigo neste processo de tentativa vs. erro.


Seja tolerante e paciente consigo e com a vida!











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