A parentalidade na atualidade enfrenta cada vez mais desafios e a sua vivência é muitas vezes invadida por dúvidas, medos e incertezas. Ser pai ou mãe acarreta uma responsabilidade enorme, as pressões são muitas e a vontade de não falhar é imensa. Mas vale a pena recordar que, embora seja pai ou mãe, não deixa de ser uma pessoa que erra, por isso, de nada adianta exigir a perfeição. Ser pai ou mãe é ser imperfeito.
Contudo, um aspeto importante e a ter em conta ao desempenhar este papel, é o modo como os estilos parentais se associam com as caraterísticas que as crianças irão desenvolver e manifestar não só na infância, mas também na idade adulta. Fatores como a permissividade e a falta de imposição de limites condicionam substancialmente a capacidade de a criança lidará no futuro consigo, com os outros e com o mundo.Influenciará também a capacidade para ser responsável, autónoma, lidar com a frustração e com a adversidade, bem como estabelecer relações interpessoais assertivas e positivas.
É frequente existir alguma tendência para exercer este tipo de parentalidade, descurando muitas vezes a importância de “dizer não”, seja por dificuldade em contrariar as vontades da criança, desconforto perante o choro e angústia dos filhos e, por vezes até, algum receio em perder o seu afeto.
Vivemos numa época em que as crianças têm acesso fácil e rápido a tudo, em que praticamente não precisam de se esforçar ou esperar para obter as recompensas desejadas. Praticamente tudo está ao seu alcance e, por vezes, nem precisam pedir para conseguir o que querem. Os pais caem muitas vezes no exagero e na armadilha do “dar” em vez de “ensinar a conquistar”. São, muitas vezes, movidos pelo desejo de que nada falte aos seus filhos, de lhe dar todas as oportunidades que, eventualmente eles mesmos não tiveram, de que não sofram e de que sejam felizes. Todos estes motivos são válidos e, quando os pais o fazem estão a faze-lo com a melhor das intenções, não estando em causa o amor que nutrem por eles. Todavia, ao mesmo tempo que amam os seus filhos condicionam o desenvolvimento de algumas competências essências ao seu crescimento e relacionamento interpessoal.
A criança é um ser em formação, que precisa de alguém que o oriente, que balize o seu comportamento e lhe indique o que é ou não ajustado ao mundo que o rodeia. Estas balizas e estes limites diferem entre as pessoas e, os limites que uns pais estabelecem, não são necessariamente iguais aos limites que outros pais definam. Sabemos ainda que, nada é estanque, que aquilo que hoje é aprendido, amanhã será posto em causa, o que não é necessariamente mau. Além disso, cada ser humano é livre de fazer as suas próprias escolhas, mas, mostrar um caminho não é sinónimo de obrigar o seu filho a percorre-lo. O risco de não lhe mostrar modelo algum é tão grave como o risco de lhe impor determinado modelo.
Ao longo da vida, as crianças que serão mais adiante adultos, vão deparar-se com inúmeras frustrações, coisas que não vão conseguir alcançar, relações que não irão resultar, empregos que não conseguirão, entre outras coisas. É por isso importante que estes entendam desde cedo que nem tudo o que desejamos se tornará realidade e, a partir daí, desenvolver-se-ão competências e habilidades para lidar com a frustração.
Além disto, ouvir “não” permite ao ser humano compreender que também o poderá dizer sempre que sentir que não concorda ou que algo lhe desagrada. Compreender o conceito de “limites” torna mais fácil conseguir impô-los mais adiante.
Contudo, a imposição de regras, de limites e do “não” devem ser contextualizadas e explicadas. Uma regra ou um não explicado é mais facilmente apreendido do que algo que é apenas uma ordem dada de modo autoritário, mas, é importante relembrar que, em última instância, a regra imposta pelos pais deverá ser respeitada. Afinal, os pais são a primeira figura a quem a criança deverá respeitar e, se esta aprender isso, mais facilmente respeitará mais adiante, por exemplo, as figuras do professor ou dos agentes de segurança.
Os pais devem ter sempre em mente a mediação entre a autoridade e o afeto. Ser autoritário em pouco contribuirá para o desenvolvimento emocional saudável, mas, se a imposição de regras e limites for mediada pelo afeto, então o resultado tenderá a ser mais efetivo e positivo. A criança conseguirá reconhecer que, os pais que ditam as regras são também aqueles que a amam incondicionalmente e, sentir-se amada é outra necessidade básica da criança, tão importante como ouvir “não”.
Acima de tudo, importa entender que não existem modelos perfeitos, que as falhas ocorrerão sempre e que, as diretrizes servem apenas como orientação. Cada criança é única e todas as diretrizes precisarão ser ajustadas à realidade de cada família.
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