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A Síndrome de Burnout



Muito se fala no Burnout e nas consequências do mesmo, quer nas nossas vidas profissionais, quer pessoais. Mas o que é, afinal, esta síndrome? E quando ocorre? Será que apenas acontece quando temos um ambiente laboral difícil de gerir?

O Burnout é uma resposta à exposição continua e prolongada ao stress no trabalho e à consequente falta de estratégias adaptativas para enfrentar o mesmo. Não raras vezes, esta sensação culmina num estado de esgotamento que se repercute em todas as vertentes das nossas vidas.


Os especialistas identificam três fases distintas do Burnout num grau progressivo de comprometimento para a nossa saúde física e mental:

1. Esgotamento Emocional – nesta fase, sintomas como a falta de energia para tarefas profissionais e pessoais, fadiga, sensação de vazio, dificuldades de concentração e sintomatologia do foro ansioso começam a fazer-se sentir, cada vez com maior frequência e intensidade;

2. Despersonalização – a falta de capacidade para gerir emocionalmente os sintomas da primeira fase contribui para o aparecimento do isolamento e da necessidade de distanciamento dos outros, resultando em contactos mais impessoais e desumanizados. Pode também surgir a sensação de “não estarmos presentes” na maioria das tarefas laborais, já que passamos a vivenciá-las sem afetividade e numa mera perspetiva de sobrevivência – em piloto automático;

3. Incompetência – o acumular das sensações do esgotamento emocional e da despersonalização levam-nos a uma autodesvalorização, empobrecimento da forma como nos vemos e avaliamos, desmotivação para as tarefas, sentimentos de culpa pela falta de produtividade ou progressão na carreira, irritabilidade, baixa noção de autoeficácia e limiar de ativação baixo para questões relacionadas com o trabalho, incluindo o evitamento de tarefas. Podemos sentir também um agravamento da componente somática – dores e tensão musculares, enxaqueca, taquicardia, dificuldades respiratórias, alterações no sono e no apetite e sintomas gastrointestinais, fazendo progredir a sensação de incapacidade e o decair da nossa saúde física e mental.


Mas ainda assim, a Síndrome do Burnout tem mais que se lhe diga. Tudo se torna categoricamente “simples” quando temos algo de concreto de que nos queixar: “o ambiente de trabalho é tóxico”, “o meu chefe é um osso duro de roer”, “tenho um horário sobrecarregado”, “demasiada responsabilidade”, “não ganho para isto”, ...

Mas já reparou que ninguém nos prepara para o Burnout quando adoramos o nosso trabalho? Quando temos as condições e o gosto pelo que fazemos? E agora? Sou ingrat@? Como explico a quem está à minha volta que estou a entrar numa espiral difícil de gerir, quando sei que sou privilegiad@ na posição em que me encontro?


Cuidado: não caia naquela história do “Quem corre por gosto não cansa” – não deixa de ser uma pequena (grande) mentira que vamos perpetuando, na esperança vã de manter a crença de que aguentamos e podemos tudo...

Quem corre por gosto também se cansa – ainda que adore cada segundo da corrida!

Quem corre por gosto, muitas vezes até se cansa mais.

Quem corre por gosto, muitas vezes sente dificuldade em dissociar as horas que dedica ao trabalho, precisamente porque o trabalho é também uma paixão, e por isso não se deixa ficar pelas 8h de serviço diárias. O traballho é levado para casa, anda connosco nos autocarros e metros da cidade, vai no nosso bolso aos jantares e almoços de família, acompanha-nos nas noites mal dormidas, nas quais surgem mil ideias incríveis para implementar, e adivinhe... acompanha-nos também quando o cansaço mental se acumula e é já tanto, que todas as horas do nosso dia são o nosso “gosto” cansado e sem energia.


Para conseguirmos ser melhores profissionais, precisamos de fazer o exercício de dissociação entre o que fazemos e o que somos fora do nosso ambiente laboral – tirar tempo para cultivarmos a pessoa que somos fora das paredes do nosso trabalho e descobrirmos novos hábitos, reencontrarmos velhos gostos e cuidarmos a nossa mente e o nosso corpo para o que é um equilíbrio entre estes dois mundos – para o bem-estar geral, sucesso e saúde de todos os nossos “eus”.


Sara Morgado





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